Sempre achei que fosse encontrar a mulher da minha vida numa daquelas situações clichês do cinema água com açúcar. Vou ao supermercado, escolho o molho de tomate e quando vou pegá-lo, pulft! Eis aquela mão delicada, com as unhas pequenas, mas bem feitas, pegando o mesmo molho. A gente solta um “err, desculpa...” meio gaguejado e, tá lá, tempinho depois estamos contando essa historinha de como a gente se conheceu de forma inusitada. Ela vai dizer que achou “bonitinho” o fato deu ter ficado um tempo escolhendo o molho, pensando alto se levava o de pizza ou o tradicional. Eu vou dizer que fiquei enrolando ali propositalmente, esperando que ela chegasse até a prateleira. E no fundo no fundo, a gente vai saber que tudo isso tinha sido obra do destino. Uma pena que a Scarlett Johanson não tenha aceitado esse papel.
Acabei indo à lavanderia, dessas Lav&Lev, em que ficam um monte de máquinas de lavar e um monte de cadeiras e Contigos! de 1997, mostrando na capa a Sheila Mello no carnaval de Salvador. Enquanto via as fotos da moça, que tinham sido tiradas de um ângulo um tanto de baixo pra cima, senta próximo a mim uma super loirinha que eu nem tinha visto entrar. Olho uma, duas vezes, e ela sorri meio timidamente. Pergunto sobre o que tá ouvindo no iPod, ela diz um nome meio estranho e me explica sobre a história da banda. Acho meio alternativo, mas nem ligo. Ela me convida a ouvir, me dando um fone. Sento na cadeira ao lado e então ouvimos e conversamos sobre descontrações. Falo sobre a vida de morar só e ela me conta sobre os favores que a mãe pede pra fazer quando a máquina da casa quebra. Pronto, pois toda a vez ela passa a contar pros nossos amigos sobre a minha samba-canção do Snoopy, que sem querer deixei à mostra na minha cesta.
Talvez eu seja mesmo o último romântico. Talvez eu esteja vendo filmes demais com as companhias erradas! Nem sou príncipe, muito menos sapo. Nem tenho qualidades que me façam entrar num conto, mas se o sapo me oferecer o seu papel, eu juro que aceito! Estar no brejo nunca foi problema, só não abro mão da breja. Uma boa dose daquilo que passarinho não bebe tem surtido mais efeito que o molho de tomate. Aliás, tenho tentado largar o vício do supermercado. Talvez, por isso, minha geladeira esteja às moscas. Ótima dieta para anfíbios, não?! Também tenho lavado minhas roupas em casa e meu pé no chuveiro, viu seu sapo? Esse papo de não lavar porque não quer, não vai colar comigo. Mas não se aborreça, porque se a Scarlett aceitar aquele papel, prometo um contrato vitalício pra você com as fadas.