quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Estações da Vida



Escancarou-se o mundo a sua frente. Exatamente como haveria de ser. Não esperava que fosse tão cedo, tão rápido, tão intensamente fluindo. Daqui a um tempo, talvez. Não agora. Mas aconteceu, por um vacilo do destino, por um breve momento de ansiedade, que subitamente antecipou-se e desavergonhadamente revelou-se.

Agora estava ali, na sua frente. E diante de seus olhos, talvez nem ele acreditasse. Um equilíbrio instável tomou conta de si, em um limiar que a qualquer momento penderia para algum lado. Mas confiava na nova linha do tempo, a que fora redesenhada naquele instante, acreditava naquela nova ordem para os fatos.

Precisaria agir agora. E agiu.

Fez exatamente o que era pra ser feito e o que esperavam dele. Colocou os pontos em seus devidos lugares. Ordenou os planos na sequência determinada. E fez daquele outono, a melhor das primaveras.

Mas o universo, naquele momento, não conspirou a seu favor.

Por algum motivo que ele não conseguiria tão cedo entender. A vida tem dessas coisas, foi o que passou pela sua cabeça. Só mais um eufemismo para uma profunda decepção, internamente velada. Calou-se.

O mundo não estava preparado, ainda estava rodando e rodando e rodando e não mudaria seu curso para aquela ironia. Uma simples ironia. Não fora a vida que havia se antecipado diante de seus olhos, era ele quem estava em outra sintonia, inquieto como sempre. Ficou o aprendizado. Paciência é uma virtude que ainda estava desenvolvendo.

Há de aguardar o próximo outono, e esperar que as folhas simplesmente voem pelo seu caminho. Exatamente como há de ser...


Foto: [Marcela Condurú]

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Esse Rio é minha rua...

Uma homenagem do povo dos rios e iguarapés lá do Norte pro povo, que hoje aqui em São Paulo, viu as ruas virando rios...

ESSE RIO É MINHA RUA
( Paulo André e Ruy Barata )

Esse rio é minha rua,
minha e tua mururé,
piso no peito da lua,
deito no chão da maré.

Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.

Rio abaixo,
rio acima,
minha sina cana é,
só em falá da marditame
alembri de Abaeté.

Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.


Me arresponde bôto preto
que te deu esse pixé
foi limo de maresia
ou inhaca de mulhé.