quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Rotina Paulistana

Segunda-feira, no metrô pessoas sempre cheias de pressa, cara amarrada, com aspecto cansado e ar mal educado. Essa é a figura diária do paulista, na minha concepção. E sempre achei que fosse ficar imune a essas coisas.
Depois de 2 dias enfrentando, com chuva, o trânsito da marginal do Tietê, chegando em casa tarde da noite e tendo que acordar cedo no outro dia. Sinto na pele os “sintomas” que qualquer paulistano sente. Essa cidade é louca e se deixar enlouquece a gente.
O Tempo aqui se conta em horas... Horas no trânsito, horas de um lugar pra outro, hora pra trabalhar, pra encontrar o namorado. A cidade te engole junto com o horário. 24h parece pouco, mal da pra pensar.
A semana voa e o final de semana chega pra lembrar que as pessoas têm vida própria. A Cidade fica diferente o céu chega a ficar um pouco azul, os passarinhos cantam e as pessoas fazem até a proeza de sorrir de vez enquando.
Sábado e domingo são, para São Paulo, aquela respiração profunda e pensativa que a gente dá antes de retomar alguma tarefa...
Ai a segunda-feira chega e no metrô pessoas cheias de pressa, cara amarrada, com aspecto de cansaço e ar mal educado...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A vida é quase assim


Quase sou santo. Teria um perfil exato pra exercer todo um potencial celestial, se assim podemos dizer. Realmente poderia servir de exemplo, não fossem meus erros cada vez mais crassos, não fossem os palavrões que costumo proferir em alto estilo , não fossem as pragas que rogo aos bons filhos das putas desse mundo. Por uma vírgula talvez fosse santo, mas quase. Ahh se não fossem as tentações, que não deixo de ceder nem com reza.

Quase sou esperto. Sei de tudo que acontece ao meu redor, de todas as teorias que inventam, de todas essas artimanhas existentes. Posso facilmente convencer quem eu quiser, do jeito que eu quiser. Mas essa mania de quase confiar nas pessoas põe em xeque minha expertise. Cinco senhores vestidos de terno com risca de giz e chapéu, carregando malas de couro e empunhando armas nem sempre quer dizer que fazem parte de uma máfia. Ahh se não fossem essas aparências tão enganosas e essas teorias tão falhas.

Quase me apaixono. Ia me deixar levar por aqueles olhos tão doces e meigos, aquele sorriso tão espontâneo, aquele encanto tão natural. Poderia lhe dizer aquela música que me veio à mente na hora, que combinava perfeitamente com toda essa situação. Poderia lhe falar as palavras que teimavam em formar uma poesia. Decidi que era melhor deixar isso pra uma outra hora. Ahh se não fosse essa paralisia momentânea, que me deixa sem reação e bloqueia meus sentimentos.

Quase me distraio. Por um breve segundo deixei passar algumas oportunidades. Perdi o final da piada, mas não me acanhei ao riso da plateia, já que era só um final. Deixei de ver o gol, mas que se dane, não perdi a comemoração. Por um único instante não me atentei ao sorvete caindo na roupa, à cratera na calçada, ao copo derramando, ao poste no meio do caminho. Ahh se não fossem os detalhes.

Quase sei me definir, quase me definem, quase tenho opinião formada, quase tenho certeza, quase sei a receita, quase acertei, quase me molhei, quase escrevi, quase mandei, quase sorri, quase me entreguei, quase sou idiota, quase me acharam, quase achei bonita, quase sou irônico, quase sei cuidar, quase beijei, quase caí, quase consegui, quase sei o que é certo, quase sei que vai dar errado, quase sou assim...

É um contraponto entre o que pode ser e o que não é. É uma negação tímida do que se é. É certeza e é dúvida. Mais um eufemismo pra não se ter que falar a verdade constrangida e reveladora. É o pouco que falta tentando ser o inteiro. É uma invenção. É um álibi. Ahh se não fossem os quases...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Em homenagem

A muito tempo não escrevo nesse blog, e hoje resolvi contar a história de um personagem que passou pela minha vida e que infelizmente não foi eterno.
Uma pessoa com a incrível capacidade de puxar conversa e eu não to falando apenas de tagarelar sem parar (pois isso eu faço bem), mas de conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto.
Meu avô era assim. Fila de banco era a oportunidade perfeita para falar da sua bem sucedida cirurgia de câncer no estômago, feiras e filas de supermercados eram lugares propícios para perguntar qual era o caixa preferencial porque ele tinha duas pontes de safena e uma mamária e não podia ficar esperando... Conseguia arranjar afilhado tão quanto coelho faz filhotes. Era uma pessoa contagiante!
Os assuntos que o meu avô puxava eram dos mais variados e me impressionava a capacidade dele de saber que assunto puxar com cada pessoa. A política geralmente era com os taxistas (nunca vi um assunto melhor pra se falar com um motorista do que falar mal do prefeito), com as senhoras falava da aposentadoria e do preço caro das coisas.
Com os mais novos ele tendia ao saudosismo... Falava dos tempos áureos dele e de como ele aprontou nessa vida. Do primeiro emprego e de como subiu na vida e criou 3 filhos.
Cor de índio, olhos verdes, baixinho e abusado. Boemia era um dos seus sobrenomes, ele era uma mistura de hippie, punk, boêmio... Cecílio era o nome verdadeiro, mas era conhecido como Seu Popó, personagem de Chico Anísio que tenho certeza foi inspirado nele.
Brincávamos que as histórias que ele contava deveriam ser escritas num livro. Ele não levava a sério, acho que no fundo sabia que ficaria eternizado por suas histórias contada de maneira singular.
Com seu primeiro salário fechou um puteiro, a primeira vez que viu uma visagem levou porrada da mãe. Foi comissário de bordo na Real Aerovias, trabalhou como contra regra em teatro, já foi de Office boy a diretor de RH do antigo DR, hoje SETRAN. Sua mulher (minha avó) recebeu o corpo da Carmem Miranda no Brasil, tem um filho ator, irmãs loucas e uma família absurdamente unida. Viveu várias vidas numa só. E aproveitou ao máximo do que a vida ofereceu!
Hoje ele descansa das loucuras que fez e vive dentro de cada um que conheceu o personagens, ou pelo menos uma de suas histórias!


Ao meu avô, que foi e sempre será meu herói! Queria escrever tâo bonito quanto foi a sua história!